Manifesto

O Muhda nasce como um convite. A pergunta que nos instiga é: como habitar um mundo em colapso?

O problema socioambiental é urgente. Estamos atentos à crise civilizatória que continua a emergir nos mais diversos campos, mas não basta apenas observar seus efeitos. Para além disso, é preciso reconfigurar os valores que permeiam nossa cultura, para então ocupar um espaço coletivo e autoconsciente – este a que demos o nome de planeta Terra.

Enquanto movimento, orientamos nossos caminhos a partir de seis diretrizes. São propósitos que, como bússolas, norteiam as intenções do corpo coletivo do Muhda como base das nossas ações.

Na prática, interagimos diretamente com grupos vulnerabilizados habitantes da Grande Florianópolis. Nos diferentes territórios com os quais nos conectamos, buscamos ouvir e acolher as demandas das populações, conversando com lideranças de outras redes e promovendo iniciativas que proporcionem reconhecimento, aprendizado, renda e outras formas de autonomia.

Para nossas operações, organizamos uma rede de suprimentos, recursos humanos e logísticos para, em conjunto com as comunidades, oferecer alimentação de forma regular, oficinas com temática cultural, ambiental, social e/ou outras ferramentas de apoio aos territórios.

Entendemos que a alimentação é parte imediata – e vital – de uma conexão que requer continuamente a escuta atenta. Por isso, chegamos com a mão estendida, o coração aberto, o estranhamento com a realidade, a indignação no olhar e a força do que podemos fazer para transformar.

Do mesmo modo, o compromisso do Muhda com a sustentabilidade passa por aceitar o desafio de, a partir da sua atuação, experimentar paradigmas que nos reconectem ao cuidado com a vida. Por séculos, o pensamento dominante de exploração de recursos colaborou com a devastação socioambiental. Entendendo-se como centro do mundo, nossa espécie protagonizou o extermínio de muitas outras, deixando evidente o quanto esse processo é também autodestrutivo.

Para enfrentar essa realidade que nos direciona ao colapso social, ambiental, material e individual, trabalhamos com uma abordagem ampliada da sustentabilidade, como um processo cujas ações possuem, de forma integrada, as dimensões culturais/individuais, ambientais/materiais, sociais/coletivas e financeiras.

Na esfera da sustentabilidade cultural, plantamos a semente para a construção de conhecimentos que, com criatividade, reconfigurem o pensamento desenvolvimentista dominante. O solo propício para esse plantio é o da sustentabilidade ambiental; aqui, falamos de materialidade, infraestrutura e tecnologias alternativas.

Sabemos, ainda assim, que os resultados concretos são parte de uma complexa teia de transformação. A sustentabilidade social é o cultivo dessa semente em solo fértil, ou seja, a gestão cuidadosa do coletivo de forma contínua, garantindo o movimento do campo do indivíduo até a esfera comunitária.

Como o momento da colheita, o Muhda promove a sustentabilidade financeira estimulando ações com uma abordagem colaborativa e aberta às novas economias, fortalecendo também estratégias tradicionais não pautadas pelas moedas fiduciárias.

Entendemos que é preciso dar visibilidade a outras formas de circular valor, ou seja, acessar bens e serviços não exclusivamente mediados pelo dinheiro. Para além deste, a dimensão financeira também acolhe os resultados concretos de ações que tiveram a sustentabilidade de forma transversal desde a sua concepção, encerrando aqui um ciclo.

Ações como os mutirões de que participamos, nosso programa de voluntariado e as parcerias institucionais que firmamos impactam o âmbito financeiro na medida em que viabilizam projetos, reduzem custos, potencializam soluções criativas, geram interações sociais e resgatam a percepção de que o tempo é uma das mais preciosas moedas – e, em alguma medida, está acessível a todas as pessoas.

Ao radicalizar o papel revolucionário do indivíduo e ampliá-lo para a sociedade, promovemos uma mudança profunda nos valores que nos movem. Esses valores são as raízes que materializam nossas ações em prol de uma coletividade saudável.

Sabemos que o tempo é de mudança. Nós o convidamos a um começo.

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